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quinta-feira, 30 de abril de 2009

“A vontade inconsciente de matar a minha mãe (complexo de Édipo negativo?).”


Extracto de uma sessão, com a confidencialidade devidamente assegurada, paciente em associação livre…


“A elaboração intrapsíquica do relacionamento edipiano primário na forma invertida de papeis, onde o pai representa “a mãe a conquistar”, devido à indisponibilidade materna percebida e/ou fantasiada para ser conquistada pelo filho, encontrou-se mais tarde, na vida adulta desse filho, na emersão para a pseudo-consciência da actividade pulsional de morte do desejo inconsciente de matar a sua mãe.


Matar a mãe que o pai representa fantasmáticamente, ou matar a mãe real?

Este “Édipo” parece encontrar-se agora num estado secundário confusional, ou pelo menos num estado de continuidade confusional primário, onde não entende qual o seu papel natural, não sabendo quem conquistar (pulsão de vida/sexual) e quem matar (pulsão agressiva/ de morte).

A angústia proveniente da dúvida permanente instaurada parece alimentar a confusão primitiva sobre quem é quem, hetero fantasiando, e sobre quem é ou que “Édipo” deve ser (ou deveria ter sido).


E onde cabe o papel do irmão de “Édipo” no seio desta tentativa frustrada de perceber quem é a mãe a conquistar e o pai a aniquilar?

“Édipo” sente-se demasiado fragilizado para ser o guerreiro conquistador que a natureza dele próprio espera que ele seja, a luta é demasiado feroz, os adversários são mais fortes, e existe ainda o fantasma de não saber quem são os aliados e quem são os inimigos, “Édipo” está confuso e decide não lutar.


Mais tarde descobre que mesmo que não queira essa(s) guerra(s) não se pode dissociar de a(s) travar, se não lutar morre (é aniquilado, foi?), se lutar pode morrer, pode matar (conquistar o objecto de investimento sexual/de vida), mas não pode nem consegue pacificar antes de ir para a guerra.


Será que ele ao conquistar confusionalmente o pai, isto é, o pai em representação invertida da mãe, não estará também a conquistá-lo a ele enquanto pai realmente?

Conquistar o pai (de facto) implica matar a mãe (de facto), ou matar a mãe é matar o pai que funciona em representação materna (?) possibilitando assim conquistar a mãe “real”?”


Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 28/04/2009

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