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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

“O todo e a vida intrapsíquica.”


Condigno artifício colectivo que oferece permissão ao “self global” para ludibriar o “self específico”, que percorre em linhas que o próprio nem almeja saber que existem, uma forma elaborada de escape ao doloso impenetrável de tão insuportável e insuperável que esse pode ser, para esse ser, sendo “apenas” dele e ele próprio, alienar salutarmente (?) a consciência de si.

Codificação intrapsíquica não tanto aleatória quanto se “gostaria” que fosse, o seu fluxo, fluidez e fluência comportado pela regulação de parâmetros bem mais precisos e menos subjectivos do que tanto “jeito” daria pensar-se que assim seria, importa a parcimónia necessária ao imprescindível estado de permanência inconsciente, esse grande todo que é o “Eu” integra um tão escasso sentido “proprioceptivo” (e logo também “heteroceptivo”) que é quase mais real dizer-se que a própria consciência não existe, se essa for zelosamente interpretada como tal.

Correndo o risco de formulações e fundamentações pouco populistas e até mesmo agressivamente radicais, posso mesmo dizer que a percepção de consciência e a própria em si, não é mais do que “apenas” mais uma parte da outra parte do grande todo, ou seja, a consciência é apenas uma parte do inconsciente, isto é, ela está contida nele (e não o contrário). Esta afirmação faz parecer que ela existe, mas é importante relevar que essa existência é condicionada por um mundo “ambiental” mais forte onde ela vive e está inserida: o inconsciente (o que pode fazer com que a consciência não seja assim tão consciente quanto isso).

Não é mero “cálculo filosófico” colocar-se a típica questão do pseudo saber, sendo quer uma auto, quer uma hetero crítica fundamental para se chegar a saber que se sabe ou não se sabe realmente, isto é: “Estarei Eu realmente consciente de mim (e do mundo)?”.


Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 13/01/2009