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sexta-feira, 27 de março de 2009

“Do anonimato à consciência…”




No texto que se segue não estão presentes construtos de generalização, mas sim especificidades idiossincráticas, com trâmites de confidencialidade devidamente acautelados.

Permitida a confrontação com o presente sinalético em auto-percepção de disfuncionalidade, a exploração do conjunto de fontes promissoras das resoluções pretendidas parece causar ainda mais a continuidade do estado parcial depressor, já de si dependente da fantasia de realidade construída sobre um passado cuja negligenciação fora demasiado elaborada em formato de rigidez, (pseudo)estática e indutor de papéis correspondentes a “Eu’s” falsos.

Agora que já não parece possível retroceder ao inconsciente tão elevados e poderosos conteúdos que não param o desejo de emancipação, esses emergem e amparam o grau confusional que parece trazer ainda mais frustração do que aquela que era desgostada pela simples confusão anónima.

A desmistificação dos padrões impostos e imprimidos pelos cuidadores primários parece agora ter fortalecido o “id” na emancipação das pulsões humano-naturais e fragilizado os ditames que os faziam ficar presos a si próprios em transformações transitórias, dificuldades de existir intrapsiquicamente em pacificação identitária.

Agora que as forças se começam a equivaler na sua potência, a revolta pelo tempo em que a parte mais forte foi a verdadeiramente indesejável começa a apoderar-se do jogo interno, e a frustração mais uma vez se torna a manifestar pelo sentido de impotência de antes não lhe ter sido possibilitado sentir o seu “Eu real”, e de ainda lhe parecer distante a concretização das potencialidades de auto-resolução emotiva.

Uma pessoa (des)construída que repara que não é quem era, mas que apesar disso o foi e o tem sido, e que agora passou a existir um vazio de identidade por preencher, que lhe traz de volta à (re)construção, pois toda a construção anterior de auto e hetero identificação parece ter ficado perdida na falsidade que construíram para ela, e que ela aceitou (como é normal que se faça na “devida altura”) em agradibilidade para a sobrevivência.

Agora na busca incessante da genuinidade, sente a identidade perdida e parece não saber quem é, preferindo muitas vezes ser novamente os “Eu’s falsos anteriores” a não ser ainda ninguém, pela angústia de “não ser”.


Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 24/03/2009