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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

“A quase pseudo-consciência relacional: o conflito e o confronto (resolutivo).”


Parece, até, que seria “normativo” pensar-se que as relações sanígenas seriam aquelas desprovidas de conflitos (com confronto), mas o que torna as relações com potencial de sanigeneidade é, também, a existência de espaço relacional para o confronto (preferencialmente com intencionalidade resolutiva) dos conflitos que necessariamente, nelas, têm que existir (quando elas são relações tendencialmente genuínas, verdadeiras).
No entanto, até se entende esse pensamento, desde que ele queira, pelo menos, significar que as relações saudáveis são (também) aquelas que pretendem resolver os seus conflitos e como tal, relações tendencialmente com menos conflitos por resolver, logo a emancipação da expressão “relações sem conflitos”.
Tantas vezes, quando os conflitos relacionais ficam reservados a cada um dos seres individuais da relação e não encontram espaço para a partilha, esses podem tender a tornarem-se num duplo “problema”: um intra-psíquico, outro inter-psíquico.
Ou seja, um conflito que pode, por exemplo, tornar-se num tabu, que não é falado, que não é discutido, que não é verbalizado, que não encontra espaço para o confronto, faz-se de conta que não existe (ou todos sabem que existe e falam sem palavras), mas isso não faz com que ele deixe de estar lá (por resolver), a existir na idiossincrasia individual e sem expressão relacional (ou com expressão quase pseudo-relacional, num espaço relacional ambíguo e quase pseudo-subliminar, sujeito à diversidade e variabilidade interpretacionais, sujeito à fantasia do que é e do que pode ser).
Isso deixa uma margem de manobra de dimensão diversa e de amplitude imensa para a fantasia individual (por exemplo, a fantasia do que é o outro, do que é a relação, do que somos nós na relação, e mesmo do que somos nós), em contraponto com a realidade relacional (e individual). Do que dessa fantasia nasce e cresce, encontram-se demasiadas vezes as fontes dos acima ditos “problemas”… até um dia ela se desfazer (morta) pela realidade (ou não); até um dia se verificar que a fantasia não deixa de o ser, mesmo que possa ser compatível com a realidade do outro.
O outro em nós será sempre muito mais uma fantasia do que ele é (do que o que ele é mesmo), quando não encontramos espaço na relação para o vermos como ele é realmente (tal como, quando não encontramos espaço em nós para vermos mais ninguém/alguém do que nós próprios, tantas vezes nem para nos vermos a nós mesmos).

Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 25/01/2011

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