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Artigos principalmente sobre Psicologia Clínica de Orientação Analítica e Psicanálise.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

“O Reconhecimento Parental?”



Será de todo imprescindível que os objectos parentais (paterno/materno), ou os seus semelhantes significativos, não descurem na relação com os seus filhos a preservação do reconhecimento audível e visível, sem (ou quase sem) abstraccionismos comunicacionais ou subjectividades latentes, com o mínimo de distorções, deformações e ruídos perturbadores, para que a continuidade do vínculo não integre em demasia comprometimentos presentes e futuros, numa relação que se quer tão genuína quanto profunda, ao invés daquela tão falsa quanto superficial (?).

E as verdades que se escondem por trás de uma percepção de verdade, que se pensa que se transmite, mas que no fundo o receptor não adivinha, não sabe, e pode ficar numa razoável e permanente dúvida confusional na tentativa interpretativa de compreender mensagens claramente dúbias, com entrelinhas maiores e mais valoradas que as próprias linhas, um verdadeiro caos relacional fomentado pela dispersão entre o que um pensa que diz e o que o outro pensa que ouve.

Aliado a este sistema psicotóxico relacional poderá vir a criação de um falso self relacional, se bem que é nesse falso self que reside toda a interacção relacional que passa assim a caracterizar aquela que é a verdade da relação, ou seja, o que foi criado na base da insegurança, da dúvida, da incerteza, do confuso, do disperso, do indirecto, do subjectivo, do abstracto, poderá vir a ser a forma exclusiva da relação funcionar, sendo a relação verdadeira ainda que fundamentada em princípios de inexistência ou falsidade.

Este padrão relacional de indução de dúvida permanente, pode por exemplo implicar a incapacidade do principal elemento indutor (objecto parental) em lidar com aquilo que não diz claramente, cujas motivações podem ser erroneamente (re)dirigidas ao alvo da indução (filhos) num sentido pseudo-protector de um mundo demasiado agressivo/aversivo para poder ser visto ou sentido pelos seus descendentes, quando na verdade a evasão dissociativa da realidade começa naquele que não quer que os outros a vejam ou a sintam. Normalmente, esse mundo agressivo e/ou essa realidade evadida dissociativamente é nada mais nada menos que a própria intra-realidade do objecto parental, e também a realidade externa ao objecto parental na forma como ele a percepciona.

(A tentativa de?) Mostrar sinais sem lhes atribuir um significado, implica que o receptor o faça, mal ou bem.


Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 24/06/2008

segunda-feira, 2 de junho de 2008

«Bullying» abordado em tertúlia no Dia da Criança - Violência nas escolas «pode resultar em suicídio»




O grupo local de Aveiro da Amnistia Internacional pro­moveu, ontem, no Hotel Moli­ceiro, uma tertúlia sobre Bullying (violência escolar), a propósito da comemoração do Dia Mundial da Criança. A intervir estiveram o psicólogo clínico João Castanheira e um representante da Associação Consensus, que desenvolve tra­balho na área da Violência nas Escolas e Mediação Escolar.
O Diário de Aveiro falou com João Castanheira, no senti­do de saber o nível actual de
ocorrências do fenómeno, como se manifesta, e se as esco­las sabem lidar com a situação. De acordo com este psicólogo, apesar de o conceito de Bullying ser relativamente recente, «já existe há muito tempo; há casos muito anti­gos», defendendo que a solução não deverá passar pela inter­venção política.
João Castanheira afirma que «não se deve negligenciar a víti­ma», alertando para a impor­tância de «nos focarmos no agressor, com uma intervenção de fundo a nível terapêutico». «Eles próprios são vítimas antes de serem agressores, ten­tando deixar de ser minimiza­dos, inferiorizando os outros», explica, acrescentando o tipo de «agressor vítima, que res­ponde à agressão».
Actualmente, e de acordo com o psicólogo, as agressões verbais e a humilhação adquirem tanto peso como a agressão física, sen­do que a principal característica do fenómeno se prende com o seu «carácter de permanência, que pode ter como resultado extremo o suicídio».
Segundo João Castanheira, e baseando-se em estudos já efec­tuados, «existem crianças com predisposição para ser vítimas, pelas suas próprias características», das quais destaca a fragili­dade e a tendência para a depressão. «Os agressores e as vítimas têm características muito semelhantes; têm é uma forma completamente diferen­te de lidar com elas», revela.
No que respeita à sua opinião sobre se as escolas sabem como gerir o problema, João Castanhei­ra não hesita em responder que não, acreditando estarem a pre­parar-se nesse sentido, «princi­palmente a nível informativo». «É uma situação que se verifica, sobretudo, nos recreios, onde as crianças têm liberdade para parti­lhar uns com os outros; não há supervisão, senão entre elas pró­prias». Na sua opinião, a solução não passará pela anulação desta socialização interpares.
De acordo com os estudos mais recentes, o fenómeno está presente por todo o país, inde­pendentemente da região, sen­do que «quanto mais novas são as crianças, mais envolvidas estão», com maior incidência no sexo masculino.»


por Carla Real,
in Diário de Aveiro, 02/05/2008