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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

“Dicotomia – polo inverso.”

Cabe-me a mim, também a competência da (auto) rectificação complementar, isto é, exercer a capacidade de corrigir o incompleto, completando. De forma menos alheia da luz clarividente, quero referir-me à crónica anteriormente publicada “O que não sofri...”, com a intenção de complementá-la com necessárias fontes de informação, para que a sua compreensão se torne um pouco mais holística.
Nessa crónica o conteúdo mais significante refere que, e de forma talvez simplista e reducionista, “....não é o sofrimento que origina a patologia, mas sim o não vivênciar do mesmo na altura que se pode considerar como mais assertiva.”. Apesar de ter um grau de ambiguidade maior do que o seu grau de precisão, essa afirmação na sua essência de acção, está fundamentalmente no caminho mais acertado.
O que falta referir diz respeito não à conceptualização teórica da informação presente, mas sim à clara omissão do polo inverso da dicotomia implícita (“sofrimento Vs. felicidade”). Quero eu dizer que, no que respeita à essência de acção quer o sofrimento, quer a felicidade funcionam num mesmo tipo de registo neste contexto que aqui é abordado. Ou seja, posso também dizer que, tal como o sofrimento não vivenciado na altura mais assertiva pode ser um dos factores de propensão à psicopatologia, também a felicidade não vivenciada na altura mais assertiva pode ser um desses mesmos factores de origem psicopatológica.
Este texto parece por ora conduzir os leitores para o tema da característica presente em algumas patologias do foro psíquico referida na literatura da especialidade como embotamento afectivo. Mas, neste contexto o embotamento afectivo tal como referenciado na dita literatura não pode ser aplicado, pois significaria ausência de expressão externa de emoções e afectos. De qualquer maneira é de grande dificuldade discernir o que diferencia o embotamento afectivo característica, da falta de assertividade na expressão/ exteriorização afectiva, até porque quer num quer noutro há uma conjuntura de vivência intrapsíquica dos afectos que não dá aso a grandes permissividades de exteriorização.
Para facilitar essa distinção pode dizer-se que no embotamento afectivo clássico (característica) o indivíduo não expressa de forma alguma os afectos para o mundo externo, enquanto que no contexto de não assertividade o indivíduo para além de ter a capacidade de exteriorizar os afectos, é incontornável que o faça, embora eles se apresentem sob formas diferentes daquelas que seriam as mais convenientes para a sua saúde mental.
Deve ser também referido que esta é uma visão que pretende separar conceitos para os compreender, conceitos esses que estão de tal ordem interligados, que seria por bem que os pudesse-mos compreender na sua globalidade conjuntural. Para além disso, como ressalva, pode obviamente ser possível, e de facto acontece, existirem casos em que o embotamento afectivo e a não assertividade afectiva estão presentes em simultâneo.
Como pode então a felicidade não vivenciada na altura mais assertiva ser um factor de propensão à psicopatologia?
A resposta a esta questão está implícita na referida crónica (“O que não sofri...”) e também nesta. Será de grande utilidade para o leitor pensar por si próprio na busca de respostas para si e para o mundo que o rodeia.
O que está implícito (“inconsciente”) será sempre mais explícito (“consciente”) para cada pessoa, se for a própria a achar as respostas que considera mais pertinentes (“subconsciente”) para cada pergunta.
Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 27/12/2005

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