“O lobo que veste a pele de cordeiro”, pode e deve ter diversas interpretações, aqui vou focar-me apenas em duas mediante a perspectiva da intencionalidade: o lobo que sabe que é lobo e que veste a pele de cordeiro de forma intencional, e o lobo que pensa que é cordeiro e que veste a pele de cordeiro de forma ingénua (domesticada).
O que é certo é que ambos são lobos e ambos vestem uma pele que não é sua para se poderem “juntar” (aproximar) a um rebanho de potencial alimento. Forma mascarada como parte da metodologia e estratégia de caça no primeiro caso, automatismo etiológico de base genética e réptiliana (instinto sobrevivência). No segundo, a mesma estratégia e o mesmo instinto, mas intragado pela ignorância ingénua proveniente de uma domesticação ou impressão de regras e valores no aclamado sistema psíquico regulador da moral que é o subconsciente.
Com ou sem princípios de moral, ambos não se livram de actuar de forma similar, ou talvez o segundo se retraia (até porque não tem necessidade real de caçar para a satisfação alimentar – comida no prato), ou caso actue fique com problemas ou desenvolva conflitos intrapsíquicos, aquilo a que vulgo se chama culpa ou peso na consciência…
Independentemente disso, os dois têm um desejo inato de oralidade alimentar pelos mesmos cordeiros, os primeiros saciam-se sem problemas de moral e os segundos sentem-se culpados por acharem que fizeram mal (se o fizerem). Afinal de contas, o que está em causa acaba por não ser o que é certo ou errado fazer, mas sim o que se faz. E o que é que fazem os lobos neste conto?
Parece-me que o leitor está inteirado da resposta mais assertiva à questão acima exposta, mas nem tudo é aquilo que parece, ou melhor, o mais comum são as coisas não serem bem aquilo com que se afiguram, tal como o cordeiro que é apenas um lobo. A questão deixou de ser o cordeiro que é apenas um lobo, para passar a ser: que tipo de lobo é aquele cordeiro?
Por muito domesticado que esteja o lobo ingénuo o seu desejo é comer as ovelhas, por muito que esse lobo se queira esquecer do que realmente é não o deixará de ser por causa disso… Ao invés, o lobo que sabe que é lobo, aceita a sua condição de vida, aceita-se a si próprio, até porque ninguém é alguém para julgar se o lobo é mau e o cordeiro é bom… O lobo é “apenas” um lobo, e deve sê-lo como é para não o deixar de ser, no sentido em que a sua existência é tão digna como a de qualquer outro animal.
Bem, a minha função não é defender o direito à existência animal enquanto ser no seu estado selvagem, até porque não é a isso a que me refiro, mas sim o direito à autenticidade que pode ser ou não imbuída de um sistema (simples ou) complexo de valores. Basicamente, ambos os lobos são autênticos, mas apenas um é genuíno.
Voltando aos cordeiros, nem todos servem de alimento imediato, nem isso seria possível, pois para bem da sobrevivência de ambos, haverá sempre mais cordeiros no rebanho do que lobos a atacá-lo. Note-se também, e por muito óbvio que pareça é mesmo assim necessário referir, que os lobos existirão enquanto houver cordeiros, e tanto uns como outros são precisos para ambos (é claro que estou a ser reduccionista na metáfora diminuindo o universo a duas espécies animais, mas para o título serve quase perfeitamente…). Poderão os cordeiros viver sem lobos? (…)
O que é certo é que ambos são lobos e ambos vestem uma pele que não é sua para se poderem “juntar” (aproximar) a um rebanho de potencial alimento. Forma mascarada como parte da metodologia e estratégia de caça no primeiro caso, automatismo etiológico de base genética e réptiliana (instinto sobrevivência). No segundo, a mesma estratégia e o mesmo instinto, mas intragado pela ignorância ingénua proveniente de uma domesticação ou impressão de regras e valores no aclamado sistema psíquico regulador da moral que é o subconsciente.
Com ou sem princípios de moral, ambos não se livram de actuar de forma similar, ou talvez o segundo se retraia (até porque não tem necessidade real de caçar para a satisfação alimentar – comida no prato), ou caso actue fique com problemas ou desenvolva conflitos intrapsíquicos, aquilo a que vulgo se chama culpa ou peso na consciência…
Independentemente disso, os dois têm um desejo inato de oralidade alimentar pelos mesmos cordeiros, os primeiros saciam-se sem problemas de moral e os segundos sentem-se culpados por acharem que fizeram mal (se o fizerem). Afinal de contas, o que está em causa acaba por não ser o que é certo ou errado fazer, mas sim o que se faz. E o que é que fazem os lobos neste conto?
Parece-me que o leitor está inteirado da resposta mais assertiva à questão acima exposta, mas nem tudo é aquilo que parece, ou melhor, o mais comum são as coisas não serem bem aquilo com que se afiguram, tal como o cordeiro que é apenas um lobo. A questão deixou de ser o cordeiro que é apenas um lobo, para passar a ser: que tipo de lobo é aquele cordeiro?
Por muito domesticado que esteja o lobo ingénuo o seu desejo é comer as ovelhas, por muito que esse lobo se queira esquecer do que realmente é não o deixará de ser por causa disso… Ao invés, o lobo que sabe que é lobo, aceita a sua condição de vida, aceita-se a si próprio, até porque ninguém é alguém para julgar se o lobo é mau e o cordeiro é bom… O lobo é “apenas” um lobo, e deve sê-lo como é para não o deixar de ser, no sentido em que a sua existência é tão digna como a de qualquer outro animal.
Bem, a minha função não é defender o direito à existência animal enquanto ser no seu estado selvagem, até porque não é a isso a que me refiro, mas sim o direito à autenticidade que pode ser ou não imbuída de um sistema (simples ou) complexo de valores. Basicamente, ambos os lobos são autênticos, mas apenas um é genuíno.
Voltando aos cordeiros, nem todos servem de alimento imediato, nem isso seria possível, pois para bem da sobrevivência de ambos, haverá sempre mais cordeiros no rebanho do que lobos a atacá-lo. Note-se também, e por muito óbvio que pareça é mesmo assim necessário referir, que os lobos existirão enquanto houver cordeiros, e tanto uns como outros são precisos para ambos (é claro que estou a ser reduccionista na metáfora diminuindo o universo a duas espécies animais, mas para o título serve quase perfeitamente…). Poderão os cordeiros viver sem lobos? (…)
Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 19/09/2006
in Jornal de Albergaria, 19/09/2006
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