A interpretação, a adaptação e a forma de lidar com os factores do mundo externo (isto é, aqueles do foro extra-psíquico que não estão ao alcance do controlo do indivíduo) apresentam-se muitas vezes como objecto de análise terapêutica. O mais comum seria pensar-se que desses factores externos os mais relevantes para a contribuição etiológica do desenvolvimento psicopatológico seriam os designados acontecimentos aversivos, mas isso nem sempre se mostra próximo da realidade.
Um acontecimento aversivo é desde logo uma forma interpretativa do próprio acontecimento, e consequentemente essa forma interpretativa inicial desde logo irá condicionar toda a perspectiva de adaptação e coping (a forma de lidar com...). De toda a maneira extender-me em demasia sobre este aspecto iria também limitar a abordagem ao tema proposto. Assim, será preferível deixar a porta aberta sobre ele, para que cada leitor possa reflectir sobre a sua própria interpretação, adaptação e coping aos factores do mundo externo, sem ser influenciado pela dinâmica escrita.
O que realmente não pode passar em claro são as interpretações distorcidas, as inadaptações e as formas de coping que influenciam o indivíduo no sentido psicopatológico, independentemente do foro caracterológico dos acontecimentos do mundo externo.
Para que fique esclarecido não é aqui posta em causa a realidade, ou o que é real, pois o que interessa ao nível psíquico é a realidade de cada um e/ou a forma como cada um a vê. Interessa também pôr de certa forma em questão a realidade de certas pessoas, desde que ela seja prejudicial ao próprio e/ou aos que o rodeiam, isto é, formulações sobre a realidade de carácter psicopatológico.
Passando para a prática e para os exemplos (abstractos para protecção da confidencialidade dos pacientes). Em determinado momento da vida de alguém surgiu um acontecimento externo cujo grau de significância foi elevado (sendo que esse grau elevado foi incontestável, incontornável e inevitável para a própria pessoa) e ao mesmo tempo caracterizado pela pessoa como altamente negativo. Essa pessoa adaptou-se a esse acontecimento negando-o, ou seja, dizendo para ela própria que não aconteceu, não foi verdade, aquilo não se passou na sua vida. O objectivo dessa negação foi evitar que esse acontecimento da realidade externa a deixasse em sofrimento em elevado grau (essa negação poderia não ter sido patológica se não se tivesse prolongado muito para além do assertivo).
O tempo foi passando, até que dois anos mais tarde apareciam os primeiros sintomas de depressão. Três anos mais tarde a sua vida era auto-considerada como insuportável. Essa pessoa tinha por exemplo vontade de chorar permanentemente e quase nunca sabia sequer porque estava triste, achando que não existiam motivos aparentes para essa tristeza pois não lhe tinha acontecido nada de mau.
Um acontecimento aversivo é desde logo uma forma interpretativa do próprio acontecimento, e consequentemente essa forma interpretativa inicial desde logo irá condicionar toda a perspectiva de adaptação e coping (a forma de lidar com...). De toda a maneira extender-me em demasia sobre este aspecto iria também limitar a abordagem ao tema proposto. Assim, será preferível deixar a porta aberta sobre ele, para que cada leitor possa reflectir sobre a sua própria interpretação, adaptação e coping aos factores do mundo externo, sem ser influenciado pela dinâmica escrita.
O que realmente não pode passar em claro são as interpretações distorcidas, as inadaptações e as formas de coping que influenciam o indivíduo no sentido psicopatológico, independentemente do foro caracterológico dos acontecimentos do mundo externo.
Para que fique esclarecido não é aqui posta em causa a realidade, ou o que é real, pois o que interessa ao nível psíquico é a realidade de cada um e/ou a forma como cada um a vê. Interessa também pôr de certa forma em questão a realidade de certas pessoas, desde que ela seja prejudicial ao próprio e/ou aos que o rodeiam, isto é, formulações sobre a realidade de carácter psicopatológico.
Passando para a prática e para os exemplos (abstractos para protecção da confidencialidade dos pacientes). Em determinado momento da vida de alguém surgiu um acontecimento externo cujo grau de significância foi elevado (sendo que esse grau elevado foi incontestável, incontornável e inevitável para a própria pessoa) e ao mesmo tempo caracterizado pela pessoa como altamente negativo. Essa pessoa adaptou-se a esse acontecimento negando-o, ou seja, dizendo para ela própria que não aconteceu, não foi verdade, aquilo não se passou na sua vida. O objectivo dessa negação foi evitar que esse acontecimento da realidade externa a deixasse em sofrimento em elevado grau (essa negação poderia não ter sido patológica se não se tivesse prolongado muito para além do assertivo).
O tempo foi passando, até que dois anos mais tarde apareciam os primeiros sintomas de depressão. Três anos mais tarde a sua vida era auto-considerada como insuportável. Essa pessoa tinha por exemplo vontade de chorar permanentemente e quase nunca sabia sequer porque estava triste, achando que não existiam motivos aparentes para essa tristeza pois não lhe tinha acontecido nada de mau.
O que é certo é que ela tinha razão, as verdadeiras motivações que estavam na origem de toda aquela tristeza desmesurada e sem sentido aparente, estavam lactentes, remetidas para o inconsciente, sob a forma inicial de negação e sob a forma actual de auto-repressão e recalcamento.
Aquela pessoa tentou evitar o inevitável: o sofrimento (associado ao acontecimento externo). Esse sofrimento reprimido, e não vivenciado quando lhe era mais devido, tornou-se diferente (por alguns também considerado como maior), arrastado no tempo, fechado na sua vida intrapsíquica.
É de boa conveniência salientar que não é o sofrimento que origina a patologia, mas sim o não vivênciar do mesmo na altura que se pode considerar como mais assertiva. O mesmo acontecimento vivido pela mesma pessoa pode ser factor desencadeante de elementos patológicos ou não. O indivíduo singular não controla a maioria dos factores externos (e até mesmo os internos, mas isso é outra questão...), mas a forma como lhes dá significado, a maneira como lida com eles, pode ser o suficiente para diferenciar entre a patologia e a saúde mental.
Aquela pessoa tentou evitar o inevitável: o sofrimento (associado ao acontecimento externo). Esse sofrimento reprimido, e não vivenciado quando lhe era mais devido, tornou-se diferente (por alguns também considerado como maior), arrastado no tempo, fechado na sua vida intrapsíquica.
É de boa conveniência salientar que não é o sofrimento que origina a patologia, mas sim o não vivênciar do mesmo na altura que se pode considerar como mais assertiva. O mesmo acontecimento vivido pela mesma pessoa pode ser factor desencadeante de elementos patológicos ou não. O indivíduo singular não controla a maioria dos factores externos (e até mesmo os internos, mas isso é outra questão...), mas a forma como lhes dá significado, a maneira como lida com eles, pode ser o suficiente para diferenciar entre a patologia e a saúde mental.
Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 29/11/2005
in Jornal de Albergaria, 29/11/2005
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