Bem vindo(a) ao PsicologiAveiro, o blog do ITAPA.
Artigos principalmente sobre Psicologia Clínica de Orientação Analítica e Psicanálise.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

“O que mexe cá dentro…”


Demasiado ruído interposto pela situação específica que despertou e desencadeia esse processo de continuidade e generalização dessa dita negatividade alheia ao próprio interno, forçada pela interpretação comum (e até mais natural) de tal acontecimento do mundo pseudo extrapsíquico.

Acontecimento cujo poder de influência pouco se esbate, e que até se expande no dia-a-dia, funcionando como exemplo para tudo e para todos, tomando conta, sendo premissa para todas as possíveis conclusões interpretativas e inacções vividas.

Essa crença fundamentada em padrões de premissas que se iniciam nessa outra, cuja rigidez interpretativa não permite quebrar essa fortaleza que disponibiliza muralhas cada vez mais altas e mais fortes, podem provocar e normalmente provocam uma indisponibilidade irracional e pouco realista perante essa outra realidade do mundo externo.

Basicamente a predisposição para a acção encontra-se comprometida derivado a esse forte em pleno crescendo, embutido cada vez mais em torno de si mesmo, em detrimento e em defesa do mal que possa advir de tudo o que lhe é exterior, que é muito claramente toda a restante realidade à própria realidade interna ou intrapsíquica.

Essa predisposição se controlada pela ausência do controle consciente e pelo distanciamento da percepção da sua existência, torna a sua dinâmica ainda mais determinante no comportamento final, aquele que se diz observável. A pessoa deixa de estar realmente predisposta ou mesmo disposta a passar pelo mesmo, pois passar pelo mesmo significa usufruir de níveis elevados de sofrimento considerado inútil e altamente descompensador: “dali a única coisa que espero é sofrer”.

Mas, o mesmo não tem que ser necessariamente igual, nem será igual de certeza (!?), frase que não caberá junto de alguém cujas premissas não dispõem de diversidade e abertura necessárias para não reduzir a realidade presente e futura a um exemplo do passado cuja interpretação foi, e é demasiado negra para ser vista.

Não querer sofrer outra vez, ainda por cima de forma inútil e desnecessária é compreensível, mas é fundamental ter em conta que em todas as relações humanas cujas características não passam pela superficialidade, mas sim pela genuinidade, envolvem também necessariamente sofrimento. Isso não quer dizer que por envolverem sofrimento não envolvam também felicidade, ou mesmo que para se sentir feliz uma pessoa não tenha que sofrer. Pior é quando se desacredita totalmente e de forma absolutista na vida ao ponto de através de uma experiência passada só se conseguir ver um dos lados, de tantos lados que existem.

Estar disponível para viver é fundamental para que se possa viver novas experiências cujo nível de descomprometimento com o passado seja minimamente adequado à actualidade presente e expectativas de futuro. Estar em conflito, isto é, querer no fundo viver algo que de facto desejamos por um lado, e que por outro impedimos previamente que aconteça com receio de nos magoarmos outra vez, pode ser, e muitas vezes é, um impedimento suficientemente grande para que nos encontremos num impasse inactivo.

Esse impasse inactivo, se acontecer, faz com que esse conflito aumente, pois na verdade o que realmente desejamos alcançar torna-se ainda mais distante, sendo que se fortifica o lado da batalha que menos interesse tem para nós, “apenas” para nos defendermos dum futuro que ainda não vivemos.

Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 22/08/2007

2 comentários:

Anónimo disse...

Bons dias.Queria lhe fazer uma pergunta simples... comecei a ver o filme "Efeito Borboleta" e isso fez-me questionar uma coisa... pela minha experiência de vida notei que as pessoas que mais memorias têm recalcadas mais dificuldade em se lembrar das memorias têm e vice-versa. Queria-lhe perguntar se me sabe responder a esta questão. Será que o nosso cérebro quando recalca algumas memorias funciona como uma barreira que ao impedir certas memorias negativas também acaba acidentalmente por bloquear memorias positivas ou úteis a nós? que depois acabam por afectar a facilidade de nos lembrarmos de algo.existe algum estudo feito a prepósito disso? Parece-me ser útil pois muitas pessoas que por exemplo têm sucesso escolar são pessoas que desde crianças tiveram uma vida normal sem grandes traumas, pessoas mais equilibradas...E talvez o segredo disso será como funciona o nosso inconsciente, ou sub, que ao recalcar certas memorias acaba criando como que barreiras de informação por todo o cerebro que acabam por bloquear caminhos para certas memórias...

João Castanheira disse...

Boas.

A sua questão não é de todo simples, ou melhor a "simplicidade" da questão subjaz uma complexidade de resposta bastante elevada.

As suas questões são pertinentes, de facto existe a possibilidade de "esquecer" todo o tipo de memórias independentemente da sua classificação qualitativa ser regulada por factores de positividade e/ou negatividade percebidas. Mais do que isso o número maior de "esquecimentos" são úteis à nossa saúde psíquica, já que fazem parte da parcimónia mental, que nos permite focalizar, seleccionar.

Quanto aos estudos que existem (que são diversos), são do domínio público, embora para aceder a uma grande maioria dos quais se tenha que pagar (para aceder às bases de dados científicas).

Em relação à ultima temática do sucesso escolar, parece-me que é um asssunto em que não devem ser excluídas deliberadamente um conunto enorme de variaveis, que regulam quer de forma geral quer ao nível da especificidade dos casos em particular.

Agradeço o seu comentário esperando ter sido esclarecedor na minha resposta a um conjunto de questões que merecem certamente uma atenção mais detalha que esta mera resposta superfícial.

Tudo de bom,
João Castanheira.