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sexta-feira, 17 de abril de 2009

“O inter-entendimento bi-focal e a existência humana.”


A situação desencadeada pela diversidade factorial e desencadeante pela unicidade causal, constrói deliberadamente a forma dispersa de entoação do cântico interno, essa linguagem de entendimento próprio que é o próprio entendimento, a comunicação pré-linguística é já ou é ainda nomenclaticamente a propriedade de significação e significado do construto da percepção elaborada da fantasmática proveniente dos quase fios de realidade capaz de estar imbuída na consecutiva e permanente auto-dissertação e também vinda da internalidade primária, aquela que é aparente e dubiamente seca de extras ao interior, a impossibilidade fusional na própria impossibilidade de clivagem.

Por outra perspectiva, a sintonia comunicacional parece ser, não só mas também, sinónimo do estado fusional primário, ou pelo menos da emancipação dos traços e reservas disso, uma espécie de sentido e sentimento do intra e inter entendimento que anteriormente e na sua fase mais precoce permitiu a sobrevivência fantasmática e real de um novo ser no aclamado mundo extra uterino.

Pela vida fora, a transferência do entendimento primário parece repetir-se em replicação contínua da mais reptiliana forma relacional, como e sob a forma padronizada de relação com o mundo, a fim de possibilitar significação prévia e posterior à existência individual, revelando-se a imprescindível necessidade de identificação primária na construção de relacionamentos subsequentes, assim, minimizando as consequências da insegurança e incerteza que caracterizam a desmistificação dos fantasmas de confrontação com a expectativa precoce de aversividade externa, apesar dessa ser também internalizada e internalizante.

Ainda de outra maneira, a sensação de sintonia relacional parece conjugar num mesmo momento temporal, a realização fusional primária e a pseudo unicidade clivada, isto é, o individuo materializa na relação com o outro a capacidade simultânea de se fundir com ele e de se separar dele, de ser um ser individual e de ser um ente relacional, de estar em “pleno” entendimento consigo e com o outro, a possibilidade novamente real e fantasmática da existência ter significado partilhado e individual.

A importância do entendimento dual e bi-direccionado, ou pelo menos da sensação dessa existência simultânea, parece ser uma das mais valorativas formas de confirmação da própria existência na sua mais básica forma de percepção de realidade, ou seja, a sensação de mutua inter-compreensão (nem que momentânea) parece permitir ao individuo infirmar a ideia da não existência, quer da pré-vida, quer da morte, e talvez o mais importante, da própria vida.

O ser só e por si só não existe mesmo existindo (?), existe muito mais na relação com o outro do que só na relação consigo próprio (?). Mesmo em condições tipificadas como patogénicas, como nas ditas psicoses severas extremas onde há um suposto comprometimento muito significativo da relação do individuo com o mundo externo partilhado, o individuo ao existir num estado clivado com tudo (ou quase tudo) o que lhe é externo parece que apesar de ainda assim existir, não existir tanto quanto os outros que lhes é ou lhes foi permitido (re)fundirem-se com a sua “mãe” após a vida intra-uterina, isto é, a sintonia comunicacional externa parece comprometida ao receptor, embora isso não signifique que para o emissor essa sintonia não exista mesmo que de forma não dual, já que ele pode estar auto-sintonizado e mesmo perceber-se hetero-sintónico, mas clivado para o mundo da partilha humano-relacional: o inter-entendimento bi-focal.


Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 14/04/2009

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