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Artigos principalmente sobre Psicologia Clínica de Orientação Analítica e Psicanálise.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

“Sete Pedras de Projecção.”

Quando a defesa é o melhor ataque (?) … – extractos eticamente alterados (ficcionados) de “um relato na primeira pessoa de um processo contínuo (e inacabado) de auto-conhecimento.”
Com sete pedras na mão sempre prontas a atirar em jeito de defesa preventiva, objectivando aniquilar qualquer tipo de ataque antes mesmo que ele ocorra, antes mesmo que ele exista ou possa ter hipóteses de vir a existir.

“Uma só pedra não basta, não vá ela não chegar, não me vão eles atacar, e eu, não ter nada com que me defender…”

Defesa permanente, já independente da “estimulação externa” que desencadeia processos “normais” de auto-defesa, tanto atacaram, tanto “disseram” ser esse o padrão normal de funcionamento geral das pessoas, que agora isso tornou-se verdade, “a minha verdade…”
A realidade (in)compatível ajusta-se ao próprio desfasamento criado, imprimido, tornando distante a essência da pessoa para os outros, os outros que teima em não deixar aproximarem-se, não vão eles mais facilmente atacar por melhor a conhecerem…
Assim, mais vale projectar nos outros “a minha própria realidade”, ou seja, “eu ataco-os porque eles me atacam”, mesmo que essa “realidade seja só minha”, pois “como pode ser a dos outros se eu os ataco em defesa (?)”, ou seja, “mesmo antes de eles me atacarem (?) … ou mesmo que não tenham intenções de o fazer, não quer dizer que não o façam…”

“Porque tenho então que me defender se ninguém me ataca?”
“Estarei ainda a defender-me dos ataques que sofri anteriormente, fazendo com que este seja um comportamento desadequado nos dias de hoje?”
“Mesmo que ache que não estou a ser alvo de ataques é o que eu sinto e é essa a verdade que eu vivo” (…) e, “não posso deixar que eles me firam, porque não quero sofrer mais por causa disso…”
“Mais vale ferir os outros que eles me magoarem a mim!”
“É aos mais próximos de mim que mais firo pois são os que melhor me conhecem que mais me magoaram no passado, e são esses os quais me metem mais medo por isso…”, talvez por isso também, “não me dê a conhecer à maioria das pessoas, e aquelas que o conseguem acabam por sofrer as consequências disso, pois são aquelas que têm maior capacidade de me magoar…”
“Mesmo que me consiga certificar que o perigo é de facto irreal, é normalmente incontrolável o acto impulsivo de apedrejar para não ser apedrejado, mesmo que só eu tenha pedras na mão!”
“Quando me apercebo que me aleijo (mais a mim) ao ferir os outros, principalmente aqueles de quem mais gosto (amo), tudo perde o sentido, embora o sentido seja esse mesmo (ou ainda seja hoje esse mesmo?) … Vejo-me num buraco sem fundo e sem tecto, onde faço o que não quero, porque também não optei que mo fizessem a mim.”
“Se me sinto perseguido (ou atacado?) é talvez por não conseguir fugir de mim próprio e de um passado que ainda vivo como se fosse o dia de hoje…”, e, “ se me sinto culpado por magoar os outros, e ando neste ciclo imparável de tristeza angustiante, é porque a responsabilidade dos meus actos é minha e não dos que contribuíram para que eu seja assim, desta forma repugnante… e, independentemente disso sou eu quem sofre as consequências disso… eu e os que mais me são próximos…”.
“Será que no fundo não gosto de mim, porque quem mais deveria ter demonstrado que de mim gostava, não o fez na devida altura? Tenho a sensação que sou uma merda, foi o que sempre me fizeram sentir, como se fosse uma merda!”
“E se eu não gosto de mim, como é que os outros podem gostar? Se calhar é mentira, se calhar dizem que gostam, demonstram que gostam, mas tudo não passa de um desejo meu de que isso seja verdade… no fundo não gostam de mim… até porque isso não só não é possível como não tem lógica nenhuma… como se pode gostar de merda? Eu não gosto!”
“Às vezes tenho dúvidas se vale mesmo a pena continuar junto daquela que é a pessoa que mais amo neste momento… a qualquer momento pode perceber a merda em que me tornei e serei novamente abandonado ao meu próprio amor próprio, que não é nenhum…”
“De facto sinto a necessidade conflituosa de estar e não estar, de me dar e não me dar, de me mostrar e de me esconder, de ir saltando de terra em terra para ver se me lembro de me esquecer… e, o que acontece sempre é que nada resulta benéfico, se quando me escondo é quando mais depressa me tento encontrar… e, quando me encontro, quando me volto a encontrar, é sempre o mesmo dilema de estar e não querer estar, a sofrer, a sofrer as consequências de uma sucessão de actos que não agi, e de uns tantos outros em que me comportei…”
“O que é certo é que eu não me sinto bem comigo próprio… e, tenho a noção que todos ao meu redor pagam (também) a minha factura até que o preço não seja demasiado elevado, depois deixam de pagar e abandonam-me… tenho medo que agora aconteça o mesmo, tenho medo de ficar só, mesmo que só já me sinta…”
“Este forte de solidão que criei (?) não vem de agora, já quando era pequeno dava por mim num canto, repleto de silêncio e brincadeiras imaginárias, estava para ali abandonado, ao deus dará, e deus não deu…”
“Quando alguém tenta entrar no forte, o mais normal é lutar com todas as armas que tenho para me proteger, não vá esse alguém ser apenas mais um cavalo de Tróia, um inimigo disfarçado de amiguinho saudável…”
“Depois, quando finalmente vejo que é amigo verdadeiro, exijo que seja um amigo perfeito, à minha imagem extremamente exigente de perfeição: uma pessoa ou é boa ou é má, não pode nem deve ser um pouco das duas ao memo tempo, ou na mesma pessoa…”
“Ao perceber que isso não existe (pessoas perfeitas), fortifico-me outra vez, pois o perigo que representam essas pessoas que me conhecem, é no sentido de me descobrirem como de facto eu sou: frágil, muito frágil…”
“Podem atacar, podem desmoronar o sentido que tenho de mim mesmo, podem querer ajudar, e isso iria implicar necessariamente uma dor muito mais forte que aquela que eu sinto agora…”
“E eu, não quero mais sofrer…”
“Já não sei se atacar é lutar ou fugir…”
“Já não sei se é estagnar ou fingir…”
“…que passa com o tempo, ou que o tempo não passa…”
“Cheguei a um ponto em que querer ajuda é comprometer o meu bem estar presente, numa alimentação de réstia de esperança num futuro que não me parece hoje possível que um dia se transforme no meu presente…”
Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 26/06/2007

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro João,

Se me permite, gostaria de referir a presente crónica, como sendo bastante interessante...os paradoxos da mente, passam entre tantas vezes por estas mesmas palavras, por este jogo de palavras, que ainda que não sejam as palavras de todos, constituem realmente as palavras de alguns...
Gostaria deste modo, pedir a sua autorização, para publicar a presente, no meu blog, claro está, respeitando a origem e publicando o nome do respectivo autor...

Agradeço desde já a sua atenção

Raquel Reis disse...

Agradeço a sua visita ao meu cantinho!

E retribuo os parabéns pelo seu blog, é muito interessante!

Cumprimentos,

Raquel Reis

Anónimo disse...

Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira. Se você quiser linkar meu blog no seu eu ficaria agradecido, até mais e sucesso. (If you speak English can see the version in English of the Camiseta Personalizada. If he will be possible add my blog in your blogroll I thankful, bye friend).

Puro Equilíbrio disse...

Sem palavras....essa realidade retratada, foi-me projectada como espelho de muitas vidas, que conheço...faz pensar... faz pensar no passado...faz olhar o presente.

Estou a gostar muito do seu blog, muito interessante e inspirador e sobretudo cheio de experiências e relatos reais.

O meu site ainda está em construção, mas visite-o mais tarde, espero que goste e que possa a troca de experiências e informação ser uma partilha valiosa.
http://www.puroequilibrio.com
LS