Nota introdutória: “palavra(s)” têm no texto seguinte uma dimensão semântica que ora se enquadra no seu literal significado, ora se encontra simbolizada, e, tantas vezes o discernimento da sua significação engloba ambas, ficando por vezes dúbia a aplicabilidade do quê a quando, permanecendo uma dúvida imprescindível e intencional à amplitude do sentir idiossincrático.
(…) “Nunca antes aquelas simples e parcas palavras tinham tido valor, até que X mas disse!” (…) Daquela pessoa, aquele dizer transformou-se, transformou (ganhou valor, nasceu e ficou vivo). Não é o que as palavras dizem (per si), nem mesmo (só) o que elas nos querem dizer, é também o que quem as diz nos diz, de nós na relação com essa pessoa, nos diz dele e (talvez principalmente) dele em relação a nós, isso pode dizer-nos tanto sobre quem (também) somos… (poderíamos também pensar as palavras no sentido inverso, de nós para o outro, mas “aqui”, pretende-se visualizar, para já, a perspectiva daquele que nasce com o outro com quem aprende a “falar – com ou sem palavras”) … As palavras deixam de o ser, quando nelas, entre elas, não há relação (intra e/ou inter-humana)… Tal como deixaríamos de ser(-)humanos se fosse mesmo possível “real-mente” estarmos sós.
É sim possível sentirmo-nos sozinhos… [Por muito que seja difícil de compreender e aceitar, “aqui”, podemos, também e até, dizer que nunca estamos acompanhados, tal como nunca estivemos e nunca iremos estar, e isso, é de facto tão “lógico” quanto dizer precisamente o contrário… no fim (e no “princípio”) o que conta, o que prevalece, o que é mais forte, é o sentir – mesmo que tenham sido criadas (e mantidas) hiper estruturas e/ou organizações “(phato-)defensivas” (que não permitam, por exemplo, o encontro da pulsão com o objecto receptor, real ou “substitutivo-subliminante”, e que em vez disso as conduzam ao sintoma patogénico, sinal disso mesmo).]
Por muito que custe aos mais “fundamentalistas-absolutistas”, “este”, é um daqueles que se lhes abarca nos seus próprios conceitos de plenitude fantasmática, mas que os destrona pelo próprio premissar da inviolabilidade “fantasioso-racionalizante”: “simples-mente” sozinhos não existimos, até porque não conseguimos literal e “simbólica-mente” (sobre)viver.
Encontramo-nos no outro (e com o outro), o outro em nós, e o nós na relação (encontramos a partir de “aqui” um espaço para o vice-versa?). Talvez por isso a sensação de perda e do perdido se associe, uma e outra vez, ao sentimento de solidão… a depressão (que) começa no desgosto de “Amor”… tantas vezes no mais “primário”, repetido (à sua similitude, e por vezes até à exaustão) nas relações de objecto “secundário” por essa vida fora… até se encontrar “O” novo objecto na “nova relação primária”.
Claro que também estas palavras «até se encontrar “O” novo objecto na “nova relação primária”» seriam/serão apenas lugares vazios na plateia de um qualquer teatro onde nenhuma peça sequer está a decorrer, se a elas não juntarmos, não uma qualquer, mas “A” peça, “A” plateia e “O” teatro. Mesmo, e apesar, da pretensa metáfora se imiscuir no seu próprio reducionismo (in)tolerável, permito-me ainda assim, “com vocês”, “A-riscar”.
Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 08/02/2011
4 comentários:
Lembra-se de mim?
Olá Sónia,
sim, lembro-me do si.
Está tudo bem consigo? Já lá vão uns bons anos.
Olá Sónia,
tendo em conta que este é meio publico de comunicação (visível a qualquer utilizador), sugiro que para preservar a sua privacidade comunique comigo via email (psicastanheira@gmail.com) ou por outro meio de contacto privado que prefira.
Obrigado.
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