É supostamente certo e sabido que a escolaridade (“obrigatória” em Portugal até 9.º ano de escolaridade ou 16 anos de idade) é uma das componentes, do complexo e vasto rol educativo, cuja importância real e relativa se pode considerar fundamental. Da anterior afirmação, poucos serão os que a contestem, pelo menos no que respeita à sua essência. Certo ou errado!?
O que certamente importa são aqueles que se enquadram no grupo dos poucos que a contestam, e que não a contestam de uma forma qualquer e insignificante. Quero eu dizer que existem pessoas que por exemplo não consideram fundamental para a educação dos seus filhos a componente escolar.
Vejamos um exemplo resumido e ilustrativo retirado das sessões de psicoterapia de um paciente seguido por mim. Esta pessoa quando tinha quinze anos de idade foi literalmente obrigada pelo seu pai a abandonar os seus estudos, sendo ainda, para além disso, também obrigada a trabalhar. Apesar do seu sucesso escolar e da sua vontade de continuar o seu percurso escolar, viu-se na condição daquilo que na língua portuguesa se pode designar por escravatura, já que todo o seu dinheiro, fruto do seu trabalho física e psiquicamente pesado (e ilegal), era retido pelo seu pai. O indivíduo em causa descontente com esta situação indesejada, resolveu pedir ajuda às autoridades competentes, que cumpriram o seu papel, permitindo-lhe voltar para a escola (este processo de pedido de ajuda envolveu grandes dificuldades).
Claro que esta história não fica por aqui, pois apesar de ter concluído o 9.º ano, este indivíduo viu-se novamente obrigado a abandonar a escola por falta de meios de sobrevivência. Isto é, teve que ir outra vez trabalhar, desta vez para poder comer, ter tecto, vestir, e, quem sabe viver.
Não posso deixar de realçar mais uma vez que esta pessoa tinha sucesso escolar, melhor dizendo, tinha boas notas. Ou seja, ou bom aluno e um potencial futuro desalojado da sua vida pelo próprio pai (esta interpretação baseia-se na globalidade de material terapêutico e afins que por razões obvias de espaço e sigilo profissional não estão aqui mencionadas).
Partindo para uma componente mais teórica da questão torna-se imprescindível esclarecer que, independentemente do conjunto motivacional que levou à acção por parte do progenitor acima referido, não se trata de uma tentativa de responsabilizar o filho de forma inadequada. Quando muito a acção resulta numa responsabilização forçada e na consequente inversão de papeis? Não. O papel de pai (encarregado de educação) foi desempenhado pelo filho (educando), mas o papel do filho (educando) continuou a ser desempenhado pela mesma pessoa. Ser filho e ser pai ao mesmo tempo é algo perfeitamente normal, ou seja um indivíduo é filho do seu pai e esse indivíduo tem depois os seus filhos. Mas ser pai de si próprio, e filho de si também, na mesma pessoa... (Con)fusão de papeis...
O que certamente importa são aqueles que se enquadram no grupo dos poucos que a contestam, e que não a contestam de uma forma qualquer e insignificante. Quero eu dizer que existem pessoas que por exemplo não consideram fundamental para a educação dos seus filhos a componente escolar.
Vejamos um exemplo resumido e ilustrativo retirado das sessões de psicoterapia de um paciente seguido por mim. Esta pessoa quando tinha quinze anos de idade foi literalmente obrigada pelo seu pai a abandonar os seus estudos, sendo ainda, para além disso, também obrigada a trabalhar. Apesar do seu sucesso escolar e da sua vontade de continuar o seu percurso escolar, viu-se na condição daquilo que na língua portuguesa se pode designar por escravatura, já que todo o seu dinheiro, fruto do seu trabalho física e psiquicamente pesado (e ilegal), era retido pelo seu pai. O indivíduo em causa descontente com esta situação indesejada, resolveu pedir ajuda às autoridades competentes, que cumpriram o seu papel, permitindo-lhe voltar para a escola (este processo de pedido de ajuda envolveu grandes dificuldades).
Claro que esta história não fica por aqui, pois apesar de ter concluído o 9.º ano, este indivíduo viu-se novamente obrigado a abandonar a escola por falta de meios de sobrevivência. Isto é, teve que ir outra vez trabalhar, desta vez para poder comer, ter tecto, vestir, e, quem sabe viver.
Não posso deixar de realçar mais uma vez que esta pessoa tinha sucesso escolar, melhor dizendo, tinha boas notas. Ou seja, ou bom aluno e um potencial futuro desalojado da sua vida pelo próprio pai (esta interpretação baseia-se na globalidade de material terapêutico e afins que por razões obvias de espaço e sigilo profissional não estão aqui mencionadas).
Partindo para uma componente mais teórica da questão torna-se imprescindível esclarecer que, independentemente do conjunto motivacional que levou à acção por parte do progenitor acima referido, não se trata de uma tentativa de responsabilizar o filho de forma inadequada. Quando muito a acção resulta numa responsabilização forçada e na consequente inversão de papeis? Não. O papel de pai (encarregado de educação) foi desempenhado pelo filho (educando), mas o papel do filho (educando) continuou a ser desempenhado pela mesma pessoa. Ser filho e ser pai ao mesmo tempo é algo perfeitamente normal, ou seja um indivíduo é filho do seu pai e esse indivíduo tem depois os seus filhos. Mas ser pai de si próprio, e filho de si também, na mesma pessoa... (Con)fusão de papeis...
Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 02/08/2005
in Jornal de Albergaria, 02/08/2005
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