Certamente que o leitor se poderá questionar sobre a generosidade metafórica, de conteúdo controverso e/ou irónico em que se prima este título. De facto, a ausência de conteúdo “sonoro” pode ser benéfica nas situações mais variadas, mas não é de música literal que aqui se pretende abordar. Trata-se em vez disso de relações interpessoais, as relações entre as pessoas, a ausência delas e aquelas cuja comunicação tem características de não a ter, ou, de a ter de forma distorcida.
Como o tema proposto para reflexão é vastíssimo, será considerado apenas numa perspectiva mais específica de abordagem, aquela a que o título faz referencia subliminar: a ausência da relação esperada. Esperada no sentido de imposição social ou até de imposição biológica? (E) Ou expectativa do indivíduo específico? Vivência da relação que não existe de forma idiossincrática?
O conjunto de exemplos que se tornam casos clínicos é esclarecedor desta temática. São desde os casos em que uma das figuras vinculativas primárias ou não existem ou estão ausentes, até aos casos em que o indivíduo espera encontrar uma nova figura à qual se vincular e não a consegue “achar” pelos mais diversos motivos. Por outras palavras desde a ausência de um pai, até à ausência de uma namorada.
As questões que se levantam não dizem respeito aos casos que, embora esta ausência da relação esperada exista, os indivíduos a vivenciam de forma adequada, isto é, de forma assertiva a tal ponto que essa situação por si só não origina qualquer forma patológica. Mas sim, aqueles que ou não sabem lidar com essa situação, e/ou não a reconhecem como problemática (se ela assim o for), e/ou lidam com ela de forma deficiente/insuficiente.
É também, de certa forma, comum que neste tipo de ausências se desencadeiem formas patológicas de lidar com a situação já que ela por si só pode ser bastante problemática, o que não implica que exista (ou não) também alguma pré-disposição para a forma ineficaz de lidar com a situação. Até porque, existem formas de lidar com a situação promotoras de resolução das problemáticas e de tudo o que as envolve, e pessoas com características próprias que lhes permitem à prior implementar essas medidas promotoras sem recorrer por exemplo à ajuda psicológica.
Ou seja, a situação tem peso variável de influência para cada indivíduo e cada indivíduo tem características próprias que lhe permitem lidar com essa situação de forma muito singular. O indivíduo é influenciado pela situação e a situação revela contornos promovidos pela influência do indivíduo.
Voltando agora à questão de fundo, o indivíduo perante a ausência relacional esperada, seja na sua forma patológica ou normal envolve sempre um nível de sofrimento significativo. A gestão que o indivíduo faz desse sofrimento, a direcção e os sentidos à qual ele o conduz (exemplo: luta vs. fuga/evitamento), são factores determinantes na extensão ou encurtamento temporal desse sofrimento. Mais do que isso são factores dos quais pode depender se esse sofrimento tem tendência a ser minimizado ou se pelo contrário tende a ficar cada vez maior, até ao ponto do insuportável ou até ao ponto de auto-ruptura com a vida.
Como o tema proposto para reflexão é vastíssimo, será considerado apenas numa perspectiva mais específica de abordagem, aquela a que o título faz referencia subliminar: a ausência da relação esperada. Esperada no sentido de imposição social ou até de imposição biológica? (E) Ou expectativa do indivíduo específico? Vivência da relação que não existe de forma idiossincrática?
O conjunto de exemplos que se tornam casos clínicos é esclarecedor desta temática. São desde os casos em que uma das figuras vinculativas primárias ou não existem ou estão ausentes, até aos casos em que o indivíduo espera encontrar uma nova figura à qual se vincular e não a consegue “achar” pelos mais diversos motivos. Por outras palavras desde a ausência de um pai, até à ausência de uma namorada.
As questões que se levantam não dizem respeito aos casos que, embora esta ausência da relação esperada exista, os indivíduos a vivenciam de forma adequada, isto é, de forma assertiva a tal ponto que essa situação por si só não origina qualquer forma patológica. Mas sim, aqueles que ou não sabem lidar com essa situação, e/ou não a reconhecem como problemática (se ela assim o for), e/ou lidam com ela de forma deficiente/insuficiente.
É também, de certa forma, comum que neste tipo de ausências se desencadeiem formas patológicas de lidar com a situação já que ela por si só pode ser bastante problemática, o que não implica que exista (ou não) também alguma pré-disposição para a forma ineficaz de lidar com a situação. Até porque, existem formas de lidar com a situação promotoras de resolução das problemáticas e de tudo o que as envolve, e pessoas com características próprias que lhes permitem à prior implementar essas medidas promotoras sem recorrer por exemplo à ajuda psicológica.
Ou seja, a situação tem peso variável de influência para cada indivíduo e cada indivíduo tem características próprias que lhe permitem lidar com essa situação de forma muito singular. O indivíduo é influenciado pela situação e a situação revela contornos promovidos pela influência do indivíduo.
Voltando agora à questão de fundo, o indivíduo perante a ausência relacional esperada, seja na sua forma patológica ou normal envolve sempre um nível de sofrimento significativo. A gestão que o indivíduo faz desse sofrimento, a direcção e os sentidos à qual ele o conduz (exemplo: luta vs. fuga/evitamento), são factores determinantes na extensão ou encurtamento temporal desse sofrimento. Mais do que isso são factores dos quais pode depender se esse sofrimento tem tendência a ser minimizado ou se pelo contrário tende a ficar cada vez maior, até ao ponto do insuportável ou até ao ponto de auto-ruptura com a vida.
Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 05/04/2005
in Jornal de Albergaria, 05/04/2005
Será obviamente de grande dificuldade expor por parâmetros claros este tema, já que a sua dimensão mais correcta de análise não envolve tramites de linearidade. Por isso, será também de esperar que, aos leitores que se identifiquem com o tema, surja uma certa dúvida razoável. Também por isso foi já referida a idiossincrasia ou forma singular e única que cada um apresenta para cada situação específica. Ainda assim, é possível delimitar postulados de generalização não futurológica, mas sim baseada em dados reais que já aconteceram, e, dirigi-los no sentido do que poderá vir a acontecer.
Voltando a questão um pouco mais para a sua vertente prática, e, pegando no exemplo já referido anteriormente da ausência de um pai, na perspectiva de análise da forma patológica de lidar com esta situação, o indivíduo que a vivência demonstra muitas vezes características depressivas provenientes da ausência afectiva esperada e desejada. Essas características, que na sua forma sintomatológica relativa dependem também da fase da vida do indivíduo em que a situação acontece e/ou se inicia, tornam por norma essa pessoa mais vulnerável e fragilizada perante outras situações similares como será o outro exemplo anteriormente referido, a ausência de uma namorada.
Ainda por outras palavras, o indivíduo poderá ter tendência a desenvolver uma forma depressiva de lidar com a situação o que não lhe permitirá visualizar a situação de uma forma aproximada do que a realidade representa e apresenta. Até porque uma das características da depressão é a da distorção da realidade, normalmente vivenciada por exemplo apenas na sua forma negativa. Isso faz com que o indivíduo olhe para todas as situações da mesma forma, a negativa, a irreal por absolutismo visual. Assim, quando esse indivíduo se depara com situações similares de ausência relacional, terá tendência para se auto-confirmar na sua perspectiva negativa, de forma infundada. Essa auto-confirmação faz com que essa pessoa viva a realidade com base no seu próprio ciclo vicioso negativo, constantemente confirmado e reconfirmado por si próprio: o ciclo vicioso da depressão.
É ainda necessário referenciar que a ausência da relação esperada é apenas um factor que poderá ser desencadeante deste tipo de patologia, pois outros serão necessários para que ela venha ao de cima, e esta poderá não ser a única a ser desencadeada, mas será certamente a mais provável e mesmo a patologia base de outras que possam a ela estar associadas, segundo este factor relacional.
Voltando a questão um pouco mais para a sua vertente prática, e, pegando no exemplo já referido anteriormente da ausência de um pai, na perspectiva de análise da forma patológica de lidar com esta situação, o indivíduo que a vivência demonstra muitas vezes características depressivas provenientes da ausência afectiva esperada e desejada. Essas características, que na sua forma sintomatológica relativa dependem também da fase da vida do indivíduo em que a situação acontece e/ou se inicia, tornam por norma essa pessoa mais vulnerável e fragilizada perante outras situações similares como será o outro exemplo anteriormente referido, a ausência de uma namorada.
Ainda por outras palavras, o indivíduo poderá ter tendência a desenvolver uma forma depressiva de lidar com a situação o que não lhe permitirá visualizar a situação de uma forma aproximada do que a realidade representa e apresenta. Até porque uma das características da depressão é a da distorção da realidade, normalmente vivenciada por exemplo apenas na sua forma negativa. Isso faz com que o indivíduo olhe para todas as situações da mesma forma, a negativa, a irreal por absolutismo visual. Assim, quando esse indivíduo se depara com situações similares de ausência relacional, terá tendência para se auto-confirmar na sua perspectiva negativa, de forma infundada. Essa auto-confirmação faz com que essa pessoa viva a realidade com base no seu próprio ciclo vicioso negativo, constantemente confirmado e reconfirmado por si próprio: o ciclo vicioso da depressão.
É ainda necessário referenciar que a ausência da relação esperada é apenas um factor que poderá ser desencadeante deste tipo de patologia, pois outros serão necessários para que ela venha ao de cima, e esta poderá não ser a única a ser desencadeada, mas será certamente a mais provável e mesmo a patologia base de outras que possam a ela estar associadas, segundo este factor relacional.
Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 26/04/2005
in Jornal de Albergaria, 26/04/2005
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