Poucos serão os que ainda não ouviram o velho ditado popular “Filho de peixe, sabe nadar”. Alvo de críticas e contestações dos menos crentes e mais cépticos, este ditado como tantos outros, pode e deve ser analisado, no sentido do seu valor real.
Tem tanto de cientifico como de popular?
Por exemplo, quando se elabora uma transposição do significado latente para as flexíveis normas da ciência Psicologia, encontra-se aqui uma chave interpretativa das mais diversas realidades. Ou seja, descobre-se que o que por outras palavras se diz em Psicologia, é o mesmo no que este ditado mais se revela: “Os filhos são sempre sintoma dos pais (e/ou das figuras vinculativas que os representam, no caso da inexistência destes)”.
Na prática o que isto quer dizer, não é que filho de ladrão vai seguir o mesmo caminho, não é que filho de pobre não vai ter bens materiais, não é uma questão que se possa analisar em correlações directas de causa/efeito. É antes necessário ter em conta todo um conjunto de variáveis que modificam essa correlação directa, transformando-a apenas em linhas de orientação para o desconhecido vindouro. Assim, dizer pura e simplesmente que um pai que fora enquanto filho maltratado pelos pais vai também ele maltratar os seus filhos, está longe do que pode ser considerado linear. Mas, dizer-se que os filhos, desse pai maltratado enquanto criança, são também produto sintomatológico dessa negligência anterior, é uma condição indispensável para a correcta análise da contribuição familiar para a vida dessas pessoas, filhos.
Numa perspectiva de análise familiar, o que se quer aqui deixar assente, é que todo o complexo ambiente familiar proporcionado aos filhos, tem uma contribuição, cujo o peso é enorme, para toda a componente pessoal dos filhos. Isto é, existem claramente psicopatologias cuja etiologia é significativamente relacionada com as condições familiares, e condições específicas de cada um desses elementos familiares. Independentemente de outras causas de origem genética, orgânica, cultural, metabólica, e tantas outras, esta, a de origem relacional familiar, está muitas das vezes por trás do aparecimento de problemáticas nos filhos, aos mais diversos níveis.
Após um diagnóstico diferencial detalhado e adequado a cada problemática específica, ou seja, depois de se saber que a problemática tem origem principalmente ao nível da dinâmica da relação familiar, a abordagem mais correcta a aplicar será uma intervenção ao nível familiar, e/ou uma psicoterapia familiar. Mas, esta não deve ser declaradamente exclusiva, já que essa problemática vem representada nos filhos, e estes devem ser, dependentemente do caso, foco das principais intervenções. Apesar dessa problemática ser representativa da problemática que os próprios pais apresentam “em casa”.
É então fulcral ter em conta que existem muitas das vezes pais que, sem se aperceberem e sem terem uma intenção conscienciosa ou sequer uma intenção, (re)produzem nos seus filhos problemáticas que também neles foram mal resolvidas ou não foram resolvidas sequer. Mais do que isso, não se apercebem delas em si mesmos, e apenas vêem os problemas nos seus descendentes. Apresentam-nos como origem, causa e consequência, de todos os conflitos existentes. Querem resolver os seus problemas através da resolução dos problemas dos seus filhos. Resolver os problemas dos filhos é então resolver os problemas dos pais? Quem tem então problemas?
Tem tanto de cientifico como de popular?
Por exemplo, quando se elabora uma transposição do significado latente para as flexíveis normas da ciência Psicologia, encontra-se aqui uma chave interpretativa das mais diversas realidades. Ou seja, descobre-se que o que por outras palavras se diz em Psicologia, é o mesmo no que este ditado mais se revela: “Os filhos são sempre sintoma dos pais (e/ou das figuras vinculativas que os representam, no caso da inexistência destes)”.
Na prática o que isto quer dizer, não é que filho de ladrão vai seguir o mesmo caminho, não é que filho de pobre não vai ter bens materiais, não é uma questão que se possa analisar em correlações directas de causa/efeito. É antes necessário ter em conta todo um conjunto de variáveis que modificam essa correlação directa, transformando-a apenas em linhas de orientação para o desconhecido vindouro. Assim, dizer pura e simplesmente que um pai que fora enquanto filho maltratado pelos pais vai também ele maltratar os seus filhos, está longe do que pode ser considerado linear. Mas, dizer-se que os filhos, desse pai maltratado enquanto criança, são também produto sintomatológico dessa negligência anterior, é uma condição indispensável para a correcta análise da contribuição familiar para a vida dessas pessoas, filhos.
Numa perspectiva de análise familiar, o que se quer aqui deixar assente, é que todo o complexo ambiente familiar proporcionado aos filhos, tem uma contribuição, cujo o peso é enorme, para toda a componente pessoal dos filhos. Isto é, existem claramente psicopatologias cuja etiologia é significativamente relacionada com as condições familiares, e condições específicas de cada um desses elementos familiares. Independentemente de outras causas de origem genética, orgânica, cultural, metabólica, e tantas outras, esta, a de origem relacional familiar, está muitas das vezes por trás do aparecimento de problemáticas nos filhos, aos mais diversos níveis.
Após um diagnóstico diferencial detalhado e adequado a cada problemática específica, ou seja, depois de se saber que a problemática tem origem principalmente ao nível da dinâmica da relação familiar, a abordagem mais correcta a aplicar será uma intervenção ao nível familiar, e/ou uma psicoterapia familiar. Mas, esta não deve ser declaradamente exclusiva, já que essa problemática vem representada nos filhos, e estes devem ser, dependentemente do caso, foco das principais intervenções. Apesar dessa problemática ser representativa da problemática que os próprios pais apresentam “em casa”.
É então fulcral ter em conta que existem muitas das vezes pais que, sem se aperceberem e sem terem uma intenção conscienciosa ou sequer uma intenção, (re)produzem nos seus filhos problemáticas que também neles foram mal resolvidas ou não foram resolvidas sequer. Mais do que isso, não se apercebem delas em si mesmos, e apenas vêem os problemas nos seus descendentes. Apresentam-nos como origem, causa e consequência, de todos os conflitos existentes. Querem resolver os seus problemas através da resolução dos problemas dos seus filhos. Resolver os problemas dos filhos é então resolver os problemas dos pais? Quem tem então problemas?
Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria, 08/03/2005
in Jornal de Albergaria, 08/03/2005
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