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quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

“Sexo e ciúme...”

Estamos numa altura do ano na qual uma parte significativa da população portuguesa aproveita para passar férias, sendo que dessa parte significativa a maioria opta por destinos que envolvem a componente vital água, mais especificamente as designadas praias.
Para além de toda a dinâmica social, de recreio, da procura de lugares com propensão à diminuição da temperatura corporal (isto é, a procura da água para combater o calor externo, próprio do Verão) e de tantos outros factores motivacionais, existe também um interessante regresso às origens de pós-concepção e pré-nascimento (mas isso é outra questão cuja abordagem poderá ser focada noutra crónica, e, para que esta não deambule num tema que não é o seu, por agora não a alargo mais).
Este é um tema polémico que se destina principalmente a esclarecer alguns entraves relacionais ao nível do casal. Quero eu dizer, problemáticas conjugais cuja origem primária se situa na não compreensão da inevitabilidade da existência das pulsões sexuais e de tudo o que a sua existência pode envolver. Por outras palavras, há casais que têm problemas relacionais motivados pela não compreensão e consequente não aceitação de uma das componentes básicas do ser humano.
Obviamente que a complexidade do tema e a vastidão implicada no mesmo pode originar interpretações inadequadas das generalizações acima descritas, que por si só são algo perigosas. Para evitar correr riscos dessa índole nada melhor que exemplificar com casos reais, isto é, deixar o geral em prol da especificidade.
Um casal heterossexual, cuja mulher tinha muitos ciúmes do marido, fazia questão de dar aso à sua conjuntura obsessiva constituída pela possibilidade de ela não ser a única mulher do seu cônjuge, pelo medo de perder o marido, pela sua insegurança em não ser suficientemente boa (e, tantas outras). Para isso e por causa disso, necessitava da constante e permanente confirmação de que as suas obsessões não tinham razão de ser, tornando essa confirmação em “rituais compulsivos de perseguição” ao seu parceiro. Numa outra linguagem, para esta mulher se por exemplo o seu parceiro olhasse para outra mulher, independentemente da forma ou do porquê, isso era o mesmo que ele lhe dizer que não a amava, e/ou ele a traía, e/ou ela não era suficientemente boa para ele.
O que é certo é que este homem (heterossexual), tal como qualquer outro, tinha a tendência natural de olhar para o sexo oposto (já para não falar da tendência natural para olhar para outros seres humanos independentemente do sexo). O que este homem tinha de diferente de tantos outros é que a sua tendência natural de olhar para o sexo oposto estava pseudo-constrangida pela postura compulsiva da sua mulher, que lhe ditava para fazer o contrário à sua tendência natural. O que aconteceu, na verdade foi uma confirmação involuntária e ao mesmo tempo natural das obsessões infundadas da mulher. Ou seja, este marido não fazia nada de errado sendo que é natural olhar para outras mulheres, não significando isso que ele a traía, e/ou que ela não era suficientemente boa e assim sucessivamente. Apesar disso o que ela interpretava era a confirmação da razão de ser das suas obsessões (tecnicamente, um viés confirmatório) e não a tendência natural do marido (“olhar para o sexo oposto”) que já permitira anteriormente contribuir para juntá-los e ainda contribuía para os manter. Esta mulher tinha medo dessa tendência natural contribuir para que o marido se juntasse também com outra mulher.
Existem aqui factores que vou descurar tais como as consequências catastróficas da vida diária deste casal, e, da vida diária de cada um dos elementos em particular. Apesar disso devo ainda referenciar que as obsessões desta mulher aumentavam significativamente na ausência do marido, e, quando este voltava por muito fiel que ele fosse para ela isso era algo irreal. Já para não falar ainda do efeito contraproducente em relação aos “objectivos” da mulher referidos nos conteúdos obsessivos, isto é, este marido inconscientemente encarou o tal constrangimento como um factor de propensão para “olhar para as outras mulheres”, o que ainda tornou a situação mais complicada.
Voltando agora ao início e às praias, imaginem este casal na praia em que vocês elegeram para as vossas férias... Talvez para este casal essa praia não tenha propriamente o significado que por norma se atribui às férias e à quebra da rotina anual.
É ainda necessário realçar que no caso acima referido, independentemente de tantas outras problemáticas que pudessem existir e mesmo da génese do conteúdo obsessivo da mulher, este casal tinha um funcionamento deficitário e mantinha esse mesmo tipo de funcionamento principalmente devido a uma questão que se tornou psicopatológica na mulher enquanto ser individual. O que é facto é que a sua psicopatologia acabou por contagiar o casal e consequentemente também o marido enquanto indivíduo.
Acima referi que se ia tratar de um assunto relacionado com a problemática conjugal devido à não compreensão da inevitabilidade da existência das pulsões sexuais e da consequente não aceitação dessa condição básica no ser humano, mas dizê-lo apenas dessa forma não é talvez o mais assertivo. É imprescindível acrescentar que por vezes existem obstáculos que não dão permissão à possibilidade compreensiva. Ou seja, podem existir (como no exemplo referido) componentes psicopatológicos impeditivos para que a simples compreensão possa ser suficiente para resolver o problema. “Basta” que para isso haja uma conjuntura de moral aprendida que não seja compatível com a compreensão de “toda” a dimensão das pulsões sexuais, do próprio ou dos outros. Isso significa que a esse indivíduo pode ter sido ensinado por exemplo a negar ou a associar a perversidade às pulsões sexuais inevitáveis. Isso pode ainda significar uma não auto e/ou hetero compreensão e aceitação, como ser humano na sua “plenitude”.
O importante é que, independentemente da dimensão moral aprendida e de toda a conjuntura natural, o casal e o indivíduo em particular tenham um funcionamento adequado e não problemático, perturbado, psicopatológico. Ou seja, é quase impossível existir alguém sem conflitos internos, e é até normal eles existirem, mas torna-se necessário averiguar se esses mesmos conflitos permitem um funcionamento dito normal ou se pelo contrário tornam o funcionamento significativamente deficiente nas mais diversas áreas de vida ou em pelo menos algumas das mais importantes.
Crónicas da Mente Esquecida, por João Castanheira
in Jornal de Albergaria
, 31/08/2005

2 comentários:

Anónimo disse...

ao saber que meu esposo estava se enteressando por outra mulher me vi auto me manipulando com sexo em posicoes que nao era de costume ao terminar o ato me sinto suja e nao consigo parar o que devo fazer .gostaria de pedir a separacao mas olho os meus filhos e nao tenho coragem vcs podem me ajudar

João Castanheira disse...

Cara Anónima,

sugiro que procure ajuda especializada para que a mesma possa ser verdadeiramente efectiva. Se precisar que a encaminhe para um colega de profissão da sua zona de residência, entre em contacto através de email.

Cumprimentos,
João Castanheira.