Desejo a todos um FELIZ NATAL e um BOM ANO NOVO!
Tudo de bom,
João Castanheira.
…(mais) um pequeno relato arredondado à confidencialidade assertiva…
“Ainda não foi desta que tudo se tornou mais claro e límpido na minha cabeça, por muito que tivesse anteriormente tentado fazer com que a minha vida não dependesse desse passado que me atormenta, parece-me cada vez mais obscura essa perseguição de mim para mim…”
“Cada vez mais acredito que não é o melhor caminho aquele em que dou passos de esquecimento infrutífero, e o pior é que na outra estrada, aquela que me dita uma realidade integrada, uma realidade que continuo a desejar não ter existido, aquela que é a que se parece cada vez mais verdadeira, é também a que me impede de prosseguir para uma outra que embora seja a mesma que a primeira, não me parece de todo poder ser compatível na minha atormentada cabeça…”
“Ainda me custa muito sequer poder pensar em aceitar, e dizê-lo em voz alta, o que me aconteceu… tenho medo do que possa acontecer, do que possa vir a voltar a fazer se o admitir…”
“Se ao menos fosse possível esquecer e pronto…”
“Acha que é possível que tenha andado todos estes anos a omitir de mim o que aconteceu?”
“Eu até a mim minto…”
“Quanto mais me sinto perto de conseguir me encontrar, mais me dói por todos os lados, menos me dá vontade de me mexer… continuo a achar que mesmo que grite como gritei ninguém me vai ouvir, ninguém me vai salvar… naquele dia… como foi possível deixarem que aquilo me acontecesse?... e pior, como foi possível deixarem que acontecesse mais que uma vez?...”
“Ainda não consigo confiar nas pessoas… e ainda não sei se algum dia vou sequer perceber o que isso pode vir a significar…”
Demasiado ruído interposto pela situação específica que despertou e desencadeia esse processo de continuidade e generalização dessa dita negatividade alheia ao próprio interno, forçada pela interpretação comum (e até mais natural) de tal acontecimento do mundo pseudo extrapsíquico.
Acontecimento cujo poder de influência pouco se esbate, e que até se expande no dia-a-dia, funcionando como exemplo para tudo e para todos, tomando conta, sendo premissa para todas as possíveis conclusões interpretativas e inacções vividas.
Essa crença fundamentada em padrões de premissas que se iniciam nessa outra, cuja rigidez interpretativa não permite quebrar essa fortaleza que disponibiliza muralhas cada vez mais altas e mais fortes, podem provocar e normalmente provocam uma indisponibilidade irracional e pouco realista perante essa outra realidade do mundo externo.
Basicamente a predisposição para a acção encontra-se comprometida derivado a esse forte em pleno crescendo, embutido cada vez mais em torno de si mesmo, em detrimento e em defesa do mal que possa advir de tudo o que lhe é exterior, que é muito claramente toda a restante realidade à própria realidade interna ou intrapsíquica.
Essa predisposição se controlada pela ausência do controle consciente e pelo distanciamento da percepção da sua existência, torna a sua dinâmica ainda mais determinante no comportamento final, aquele que se diz observável. A pessoa deixa de estar realmente predisposta ou mesmo disposta a passar pelo mesmo, pois passar pelo mesmo significa usufruir de níveis elevados de sofrimento considerado inútil e altamente descompensador: “dali a única coisa que espero é sofrer”.
Mas, o mesmo não tem que ser necessariamente igual, nem será igual de certeza (!?), frase que não caberá junto de alguém cujas premissas não dispõem de diversidade e abertura necessárias para não reduzir a realidade presente e futura a um exemplo do passado cuja interpretação foi, e é demasiado negra para ser vista.
Não querer sofrer outra vez, ainda por cima de forma inútil e desnecessária é compreensível, mas é fundamental ter em conta que em todas as relações humanas cujas características não passam pela superficialidade, mas sim pela genuinidade, envolvem também necessariamente sofrimento. Isso não quer dizer que por envolverem sofrimento não envolvam também felicidade, ou mesmo que para se sentir feliz uma pessoa não tenha que sofrer. Pior é quando se desacredita totalmente e de forma absolutista na vida ao ponto de através de uma experiência passada só se conseguir ver um dos lados, de tantos lados que existem.
Estar disponível para viver é fundamental para que se possa viver novas experiências cujo nível de descomprometimento com o passado seja minimamente adequado à actualidade presente e expectativas de futuro. Estar em conflito, isto é, querer no fundo viver algo que de facto desejamos por um lado, e que por outro impedimos previamente que aconteça com receio de nos magoarmos outra vez, pode ser, e muitas vezes é, um impedimento suficientemente grande para que nos encontremos num impasse inactivo.
Esse impasse inactivo, se acontecer, faz com que esse conflito aumente, pois na verdade o que realmente desejamos alcançar torna-se ainda mais distante, sendo que se fortifica o lado da batalha que menos interesse tem para nós, “apenas” para nos defendermos dum futuro que ainda não vivemos.